Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional
Localização,
Limites, Explicação dos Limites e Tamanho
Ocupa a maior parte do norte do bioma, desde a fronteira norte de Pernambuco, estende-se pela maior parte dos Estados da ParaÃba, Rio Grande do Norte e Ceará e prolonga-se até uma pequena faixa ao norte do PiauÃ, entre o litoral e as ecorregiões do Complexo de Campo Maior e Complexo Ibiapaba-Araripe. É limitada ao norte pelos Tabuleiros Costeiros (a formação geológica passa para os solos mais profundos da Formação Barreiras e a zona mais costeira tende a receber mais chuva), e chega ao oceano em alguns trechos do litoral do Rio Grande do Norte e PiauÃ). A leste a ecorregião contorna a parte norte do Planalto da Borborema (limites de altitude), e faz fronteira também com os Tabuleiros Costeiros (mudança de formação geológica e nos nÃveis de precipitação). Ao sul é limitada pela barreira de altitude causada pela Chapada do Araripe e pela Serra dos Cariris Velhos (ou Serra de Princesa), assim como a oeste, onde faz fronteira com a ecorregião do Complexo Ibiapaba - Araripe. A ecorregião inclui o Seridó e o Cariri Paraibano (no quadrante sudeste da ecorregião, limitando com o Planalto da Borborema) e a Chapada do Apodi (no quadrante nordeste da ecorregião), com solos distintos, que influenciam a altura da vegetação (ver abaixo).
Tamanho: 206.700 km2.
Unidades Geoambientais do ZANE
Nesta ecorregião estão presentes as unidades da Depressão sertaneja (F3, F4, F12, F13, F14, F16, F18, F20, F21, F27, F28, F30, F31, F32, F33, F34); SuperfÃcies cársticas (J10, J11, J12); Tabuleiros costeiros (L9, L13, L14, L15, L16, L17); Maciços e serras baixas (T1, T2, T3); SuperfÃcies dissecadas diversas (H1, H3, H4); Serrotes, inselbergs e maciços residuais (U2); Baixada litorânea (M3, M6); Grandes áreas aluviais (N2, N3); Maciços e serras altas (S1); Chapadas altas (A4, A6); Planalto da Borborema (D7); Bacias sedimentares (I5).
Tipos de Solo, Geomorfologia, Relevo e Variação de Altitude
Esta ecorregião divide com a Depressão Sertaneja Meridional a paisagem mais tÃpica do semi-árido nordestino: uma extensa planÃcie baixa, de relevo predominante suave-ondulado, com elevações residuais disseminadas na paisagem. Os solos são rasos, pedregosos, de origem cristalina e fertilidade média a alta, mas muito suscetÃveis à erosão. Predominam os solos brunos não cálcicos, podzólicos, litólicos e planossolos. A altitude varia de 20 a 500 m na área de depressão, com elevações de 500 a 800 m. Esta ecorregião não contém rios permanentes, mas abrange enclaves de brejos de altitude (bioma Mata Atlântica).
Na Chapada do Apodi os solos são mais profundos que no resto da Depressão Setentrional, calcários, mais planos e com água subterrânea. Porém, como é tÃpico de áreas calcárias, não há rede fluvial organizada. A Chapada é uma grande superfÃcie cárstica, onde predominam os cambissolos e os latossolos eutróficos, ambos bem drenados e de alta fertilidade natural. A altitude varia de 20 a 120 m.
O Seridó é bastante semelhante ao resto da Depressão Setentrional, de relevo suave-ondulado com elevações residuais. Porém, os solos são pedregosos e tendem a ser mais rasos que o resto da ecorregião, com alta fertilidade natural e grande potencial de minério. Predominam os solos brunos não cálcicos (rasos e moderadamente drenados), mas também ocorrem planossolos e solos podzólicos, além dos solos litólicos das elevações residuais. A altitude varia de 100 a 400 m, com elevações de 400 a 700 m.
No Cariri Paraibano predominam os solos brunos não cálcicos, mas são também comuns os solos litólicos eutróficos, pouco desenvolvidos, rasos ou muito rasos e afloramentos de rochas (gnaisses e granitos são os mais comuns), na forma de grandes lajedos ou blocos desagregados, que formam a paisagem tÃpica da região.
Clima
O clima da ecorregião é quente e semi-árido. Na região mais seca (sertão) o perÃodo chuvoso ocorre geralmente de outubro a abril, e de janeiro a junho na região de clima mais ameno (agreste). A chuva nesta ecorregião ocorre de maneira mais concentrada do que no resto do bioma, como se pode ver no mapa de Máximo Percentual de Contribuição Pluviométrica (Anexo 3), sendo a ocorrência de secas prolongadas mais comum aqui. De modo geral a precipitação média anual fica em torno de 500 a 800 mm, mas contém extremos como o Cariri Paraibano (350 mm/ano).
Grandes Processos CaracterÃsticos ou Influências
A principal caracterÃstica desta ecorregião é a irregularidade pluviométrica, apresentando deficiência hÃdrica bastante acentuada na maior parte do ano (embora na Chapada do Apodi não seja tão acentuada, pois os solos retêm mais umidade). A precipitação é mais concentrada que na Depressão Sertaneja Meridional, podendo chegar a 10 meses secos. A ecorregião compreende a área mais seca da caatinga, o Cariri Paraibano, cuja pluviosidade é reduzida devido à barreira geográfica do Planalto da Borborema, e contém também áreas em processo de desertificação (Seridó e a área em torno de Irauçuba, no Ceará, e Cabaceiras e São João do Cariri na ParaÃba).
Ao contrário da Depressão Meridional, a Depressão Setentrional não possui rios permanentes, mas há a presença importante de corpos d'água temporários (rios e lagoas), com fauna e flora especÃficas. Os solos rasos constituem também um fator importante, apresentando processos erosivos intensos (em grande parte por pressão humana).
Tipos de Vegetação
Caatinga arbustiva a arbórea, sobre solos de origem cristalina. Existem áreas remanescentes de caatinga arbórea nas encostas e serras baixas, embora muito degradadas. Os vales continham originalmente caatinga arbórea - ainda hoje encontra-se remanescentes ciliares (como por exemplo, os carnaubais do Ceará).
Possui elementos da flora que são diferentes da Depressão Meridional. Além destes, a Depressão Setentrional contém duas áreas diferenciadas com extremos climáticos que condicionam uma vegetação pobre, de porte mais baixo (Seridó e Cariris Velhos). O Seridó apresenta uma vegetação mais aberta, com grandes extensões de herbáceas, e o Cariri condiciona uma caatinga nanificada. Na Chapada do Apodi a vegetação original era mais densa e mais alta, porém está hoje bastante degradada.
Exemplos de Grupos Taxonômicos TÃpicos
Flora:
Espécies caracterÃsticas da região setentrional: Amburana cearensis (Allemão) A. C. Smith, Ximenia americana L., Lantana spinosa L. ex Le Cointe, Luetzelburgia auriculata (Allemão) Ducke, Auxemma oncocalyx Baill., Mimosa caesalpiniifolia Benth., Combretum leprosum Mart., Pithecellobium foliolosum Benth., Croton sonderianus Müll. Arg.
Gênero endêmico de áreas alagadas de PB e CE: Hydrothrix (Pontederiaceae).
Espécie endêmica do Seridó: Gossypium mustelinum Miers.
Estado de Conservação Estimado
Grande parte da Depressão Setentrional (40-50%) ainda tem vegetação nativa, mas boa parte é resultado de regeneração de áreas de agricultura itinerante. A pecuária extensiva é onipresente na ecorregião. No Seridó existem áreas de mineração, além de ser uma área antiga de pecuária. Foi também uma importante área de plantio de algodão arbóreo, uma cultura que protege pouco o solo e o levou a uma intensa erosão. A Chapada do Apodi passou recentemente a sofrer grandes impactos de agricultura e pecuária extensiva.
Unidades de Conservação Presentes
UC | Tamanho | Localização | Observações |
Estação Ecológica do Seridó | 1.163ha | Serra Negra do Norte, RN | |
Estação Ecológica de Aiuaba | 11.525ha | Aiuaba do Sertão dos Inhamuns, CE | |
Estação Ecológica do Castanhão | 12.579ha | Jaguaribara, Alto Santo e Iracema, CE | |
Parque Ecológico Estadual Lagoa da Fazenda | 19ha | Sobral, CE | |
Parque Botânico Estadual de Caucaia | 190ha | Caucaia, CE | |
FLONA Açu | 215ha | Açu, RN | Criada apenas pela Port. 245 de 18/07/01. |
APA Delta do ParnaÃba | 313.800ha | PI, CE e MA - Canto noroeste da ecorregião. | Inclui principalmente sistemas costeiros. |
APA Serra da Ibiapaba | 1.592.550ha | Limite NW da ecorregião. | Apenas um pequeno trecho do norte da APA fica dentro da ecorregião. |
ARIE Vale dos Dinossauros | ?? | Sousa, PB | Criada apenas pela Resolução 017 de 18/12/84, sem tamanho definido. |
RPPN Fazenda Salobro | 755ha | Jucurutu (RN) | |
RPPN Fazenda Tamanduá | 325ha | Fazenda Tamanduá (PB) | |
RPPN Fazenda Olho D'água Uiraçu | 2.610ha | Parambu, CE | |
RPPN Não Me Deixes | 300ha | Quixadá, CE | |
RPPN Fazenda Santa Clara | 750ha | São João do Cariri, PB | |
RPPN Fazenda Almas | 3.505ha | São José dos Cordeiros, PB | |
RPPN Mercês Sabiaquaba Nazário | 50ha | Amontoada, CE | |
RPPN SÃtio Ameixas / Poço Velho | 464ha | Itapipoca, CE |
Inselberg = um monte ou pequena montanha residual, geralmente de rocha nua, de vertentes Ãngremes e arredondadas, que surge abruptamente de extensas planÃcies erodidas, em regiões áridas ou semi-áridas.
Fonte: Plantas do Nordeste